Da paixão pelas plantas ao doutorado em São Paulo: a trajetória de Winner Duque na Farmácia

Publicado em 29/08/2025.
Texto: Marianne Alves.
A história de Winner Duque Rodrigues é feita de raízes fortes, como as plantas que sempre o cercaram. Natural de Caratinga (MG), ele se mudou para Guaçuí (ES) aos quatro anos de idade, onde cresceu e vive até hoje. Ingressou no curso de Farmácia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), campus de Alegre, em 2014. Se formou em 2020 — e desde então, constrói uma sólida carreira acadêmica e científica, hoje como doutorando na prestigiada USP de Ribeirão Preto.
Mas sua trajetória começou muito antes da Universidade. Winner cresceu em meio a histórias contadas pela avó sobre o uso terapêutico das plantas, aos cuidados carinhosos da mãe apaixonada pela natureza e às inspirações da irmã, também farmacêutica pela UFES. Seu pai, funcionário do IBAMA, foi transferido para trabalhar no Parque Nacional do Caparaó, o que motivou a mudança da família para o Espírito Santo. “Foi paixão à primeira busca”, relembra. “Via minha irmã chegar em casa com fórmulas e questionava o papel do farmacêutico. Percebi o quanto essa profissão é multidisciplinar e fiquei encantado.”
A UFES e o caminho possível
A escolha pela UFES e pelo campus de Alegre não foi apenas geográfica — foi essencial. Morando em Guaçuí e vindo de uma família de baixa renda, Winner viu na criação do curso de Farmácia pelo Programa REUNI a chance real de acessar o ensino superior público de qualidade. “Mudar para a capital era inviável financeiramente. Estar perto de casa fez toda a diferença”, afirma.
Um dos momentos mais marcantes da graduação foi o “estalo” de conexão entre as disciplinas, proporcionado por uma fala do professor Jefferson Hemerly. “Ele nos fez entender que cada conteúdo fazia parte de um todo. Desde então, sempre busquei conectar os conhecimentos.”
Iniciação científica, extensão e transformação pessoal
Durante o curso, Winner mergulhou em diversas experiências que moldaram sua formação. Participou da criação da i9-pharma, primeira empresa júnior de Farmácia do sul do Estado, foi monitor de quatro disciplinas e bolsista de quatro projetos de iniciação científica (PIBIC), todos focados em produtos naturais.
Trabalhou com plantas medicinais, desenvolveu produtos, analisou compostos bioativos e promoveu o uso racional de fitoterápicos junto a Agentes Comunitários de Saúde. “A extensão me transformou como pesquisador e como ser humano. Ensinar e aprender com as vivências do outro é inspirador.”
Seu trabalho ganhou reconhecimento: foram sete premiações, sendo a mais marcante a menção honrosa como trabalho destaque na área da Saúde na XXIX Jornada de Iniciação Científica da UFES, com uma pesquisa sobre o Ginseng-brasileiro. “Foi um estudo que uniu ciência e realidade — levamos a pesquisa até as pessoas que usam essas plantas no dia a dia.”
Desafios na estrada — e na vida
Nem tudo foi simples. A distância entre Guaçuí e Alegre era um obstáculo constante. “Eu voltava todos os dias para casa. Os professores sempre entenderam quando havia imprevistos na estrada.” A greve de 2016 também trouxe incertezas. “Fizemos três semestres em doze meses, mas superamos.”
Um dos maiores desafios, no entanto, foi pessoal. Três meses antes de entrar na UFES, Winner perdeu a mãe. Já sem o pai, os irmãos se apoiaram, a principal renda era a pensão que recebiam devido ao falecimento do pai e ela já estava prestes a acabar. “Cheguei a pensar em desistir do curso para tirar a carteira de habilitação e conseguir emprego. Foi quando a professora Juliana Severi abriu uma seleção para iniciação científica. Fui sem saber o que esperar. Ela confiou em mim — e essa bolsa pagou meu transporte e viabilizou minha permanência na Universidade.”
Além da professora Juliana, Winner destaca o apoio dos irmãos e o suporte do SASAS-UFES com auxílio transporte e alimentação. “Devo tudo o que sou e tenho à minha família e a esse suporte. Sou fruto do investimento público e tenho muito orgulho disso.”
Mestrado, doutorado e futuro
Após se formar na UFES, Winner seguiu no caminho acadêmico. Fez mestrado em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Estadual "Júlio de Mesquita Filho" e atualmente cursa doutorado na USP de Ribeirão Preto, na área de Produtos Naturais e Sintéticos.
“Trabalho com prospecção de compostos bioativos que podem virar medicamentos. É uma forma de promover saúde de forma sustentável e valorizando a biodiversidade. Meu impacto é indireto, mas real.”
Winner também é exemplo de que a UFES prepara, sim, profissionais altamente qualificados. “Achava que seria menos preparado do que os colegas daqui. Essa crença caiu quando passei em primeiro lugar no processo seletivo do mestrado. A base que recebi foi sólida e me deu segurança para enfrentar os desafios.”
Hoje, Winner está em intercâmbio na Suíça como Bolsista de Excelência pela Universidade de Genebra, e deve retornar ao Brasil em um ano para defender seu título de Doutor.
Conselho para os estudantes do presente
Hoje, Winner mantém vínculos com professores e colegas do campus de Alegre — especialmente com a professora Juliana, que segue sendo sua mentora e amiga. Ao ser perguntado sobre o que diria aos estudantes que estão ingressando agora, ele é direto:
“Aproveitem todas as oportunidades. A graduação é o momento de experimentar. Façam monitoria, extensão, pesquisa. Conheçam o que a universidade oferece e descubram o que vocês realmente gostam de fazer.”
Para o futuro, Winner tem planos simples e firmes: concluir o doutorado e seguir contribuindo com ensino, pesquisa e extensão, especialmente no ensino público. “Educação é direito. E deve ser valorizada sempre.”